quinta-feira, 25 de junho de 2009

Decepções Gastronômicas Parte 1

Hoje, quando ouço pessoas reverberando que em São Paulo come-se muito bem, que há ótimos restaurantes, blábláblábláblá, penso que talvez eu esteja indo aos lugares errados.

Para mim, frequentar restaurantes aqui em São Paulo tem sido experiências muito mais "cômicas" do que "gastronômicas". Como a profissão de chef hoje tem um certo glamour, qualquer um que tenha feito um curso de um ano ou uma faculdade já se auto entitula chef de cozinha. É no mínimo ridículo. E com isso, pipocam cada vez mais restaurantes servindo comida insossa. Agora qualquer garoto de 22 anos monta um belo prato, em geral cheio de "reduções" para colorir (que na verdade só mascaram o sabor do prato principal, uma vez que têm sabor super acentuado) e então apresentam como se fosse um troféu dizendo tratar-se de uma "releitura".


Vou contar minhas últimas experiências aqui. Aposto todos já passaram por situações semelhantes. Esta é a primeira delas.

Bistrô Ville du Vin

Fui jantar com umas amigas em Moema, Bistrô Ville du Vin. O lugar era metido a sofisticado, pedi mesa para 4 e fui logo abordada por alguém que parecia o gerente da casa me perguntando se eu havia feito a reserva. Era uma terça feira, 21h, olhei no interior do restaurante e havia uma, UMA mesa ocupada. Fiz uma cara de ponto de interrogação, mas o cara com a prancheta em mãos me olhava tão fixamente que me senti uma jeca tatu. Pensei comigo mesma "Como é que eu venho num lugar sofisticado desses e não faço reserva? Sua caipira!" Perguntei quase que sussurando se o local estava lotado. "Não", ele respondeu. Não MESMO, saímos de lá quase 11 da noite e o local só teve 3 mesas ocupadas.

Pedimos a carta de vinhos. Mais uma surpresa. O garçom, como quem havia acabado de decorar o texto, nos disse que "poderíamos navegar pela loja e escolher o vinho". Ué, agora o verbo navegar também se aplica a "escolher um dos vinhos em exposição" ???

Como eu havia dado uma boa olhada no cardápio, achei estranho quando nossos pratos chegaram em 15 minutos. Tratava-se de um menu super elaborado, e com minha pouca experiência, julguei ser impossível que tivessem feito tudo na hora. Dito e feito. Nenhum prato estava bom. Longe disso. Meu prato, um tortolonne de pato com chutney de manga ao pesto de hortelã estava super oleoso, a manteiga do molho estava ransosa e o hortelã, forte demais para tantos sabores, dominou completamente o prato.

Chegou a hora da sobremesa: pedimos apenas duas, um cheesecake (R$25,00) que, segundo o maitre, era maravilhoso, e uma tarte tartin (R$ 21,50). Básico, não? Pois não é que conseguiram errar também nisso? A cheesecake foi claramente descongelada no microondas (havia pedaços quentes e outros gelados), e a tarte tartin, bem essa merece uma bela descrição. Primeiro o cara colocou o prato na mesa com a sobremesa, míni, dizendo que era uma "releitura de tarte tartin". Olhamos para a sobremesa com o maior preconceito, afinal quem tem CORAGEM de chamar uma massa folhada intercalada com maçã e coberta com uma calda melada de tarte tartin???

Grand finale... 140 reais per capita. Pra comer manteiga ransosa e "releitura" de tarte tartin. Óbvio que tinha que pagar caro. Pra nunca mais ter coragem de voltar!

Au revoir!

Um comentário:

  1. Oi Paula! Muitíssimo interessante esse post, principalmente o começo... quando vc fala no "glamour" que a profissão chef traz junto. Sinceramente, como "chef confeiteira" (ok, "chef patissier" para ficar mais bonitinho! hihih) não consigo entender! Se o profissional, o "tal" chef glamuroso não tiver que lavar muitos bowls, panelas, varrer chão, engolir -ops- sapos e sapinhos... e o principal, não tiver muito amor pela profissão... acredito que dificilmente chegará algum dia, depois de anos e anos na luta... em algum lugar que possa chamar ou achar o tal "glamour"! (bom, se eu achar, te aviso ok? hihihi) Esse foi um dos motivos que coloquei no meu blog no "must have", o livro "Cartas A Um Jovem Chef" (Laurent Suaudeau). Não sei se vc já leu, caso não tenha lido, vale a pena! Beijos!

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